Por que algumas mulheres boicotam a relação quando está ficando séria?

Mulher pensando sobre a relação.
Inventar desculpas para não comparecer a um encontro, ignorar mensagens e ligações, passar a implicar com o par – com crises de ciúme, por exemplo – e começar a achar defeitos na relação ou na pessoa são algumas das sabotagens que muitas mulheres lançam mão na hora de “azedar” um namoro que parece promissor.

Relações Anteriores

Nem sempre esse processo é consciente, claro, mas trata-se de uma artimanha que muitas colocam em prática de maneira recorrente. O medo de repetir erros de relações anteriores, principalmente as tóxicas ou abusivas, é uma justificativa, mas não a única. Existem várias explicações para essa conduta e todas exigem um exercício de autoconhecimento honesto, muitas vezes doloroso, para compreender o que há por trás desse comportamento e, assim, superá-lo ou pelo menos aprender a lidar melhor com ele.

Medo da Intimidade

Embora a autoproteção seja a razão apontada pela maioria das pessoas, as causas reais de comportamentos de autossabotagem são complexas, variadas e profundamente enraizadas. Para a psicóloga clínica Patrícia Atanes, uma das principais razões pelas quais as mulheres sabotam seus relacionamentos é o medo da intimidade. “Todo mundo quer e precisa de intimidade, mas para algumas pessoas ela pode estar ligada a experiências negativas, levando a evitar ou romper envolvimentos amorosos”, diz.
O medo da intimidade, segundo Patrícia, geralmente vem de relacionamentos parentais difíceis ou abusivos e de traumas na infância – físicos, sexuais e/ou emocionais. “A maior crença profunda, limitante e embutida nas mulheres que temem a intimidade é a de que as pessoas que se aproximam sempre têm outros interesses e não são confiáveis”, observa.

Infância

Como as primeiras relações de confiança com os pais ou responsáveis foram rompidas pelo abuso, as mulheres que temem a intimidade acreditam que todos que as amam inevitavelmente as magoarão. “Quando crianças, elas não podiam se livrar desses relacionamentos. Como adultas, têm o poder de acabar com relações ou evitá-las, mesmo quando não são inerentemente abusivas”, pontua a psicóloga, que subdivide esse medo em dois tipo, o de abandono e o de dependência.
“No primeiro, as mulheres têm medo de que aqueles que amam as deixem quando estiverem mais vulneráveis. No segundo, se preocupa com a possibilidade de perderem sua identidade ou capacidade de tomar decisões por si mesmas. Esses dois medos levam a comportamentos do tipo ‘ata-desata, junta-separa, começa-termina’ e geralmente surgem juntos”, salienta.
O exemplo negativo na infância se torna ainda mais concreto se a mulher viveu uma relação ruim, causando uma ferida emocional difícil de cicatrizar. “Se na vida adulta a mulher comprova que seu medo é real ao viver uma situação de dor, é enorme a chance de criar verdades absolutas na mente como ‘homens não prestam’, ‘todos os homens traem’ ou ‘eu não sou boa o bastante’ e passar a tentar se proteger de novas decepções de todas as maneiras”, opina a terapeuta de relacionamentos Rosangela Matos, do Instagram @descomplicandorelacoes.

O Parceiro Ideal

Já Marina Simas, psicóloga e sócia-diretora do Instituto do Casal, em São Paulo (SP), considera a mania de idealizar um parceiro outro fator importante. “Elas sempre querem mais. Buscam viver um conto de fadas, tudo muito especial, e não se contentam com a realidade. Precisamos lembrar que as relações são construídas de forma conjunta e um casal que funciona bem significa que ambos se desenvolvem, fazem planos conjuntos, alinham expectativas e desenham o futuro. Nada vem pronto”, fala.

Como Romper as Barreiras?

Na ótica de Patrícia, autoconhecimento é a palavra-chave para entender o boicote e exterminá-lo. “É natural do ser humano querer se proteger, mas fugir não é a solução. A melhor saída é ter uma ideia de quem você é e como age num relacionamento e avaliar qual a melhor forma de mantê-lo e ser bem-sucedida nele. Afinal, se souber quem você é verdadeiramente num relacionamento, seu parceiro também terá a chance de conhecê-la e, juntos, poderão quebrar o padrão de sabotagem”, conta.
Observar a si mesma e analisar os padrões de comportamento é um passo importante. “Seja sincera consigo mesma e enfrente todas as maneiras pelas quais você pode, devido a esses comportamentos, ter abusado ou ferido seus parceiros por causa do medo da intimidade. Caso contrário, está fadada a repetir os erros”, diz Patrícia. Não há problema em obter ajuda da psicoterapia, uma ferramenta importante para identificar e compreender processos que sequer, muitas vezes, nos damos conta.
Ver os acontecimentos de outra maneira e repetir coisas boas sobre si mesma para melhorar sua autoestima, segundo Rosangela, também são etapas fundamentais, da mesma maneira que tirar o foco da relação, se ocupar com coisas que gosta e deixar que tudo flua é um caminho para quem deseja aos poucos diminuir a sabotagem.
Na opinião de Marina, é fundamental ainda se dar a chance de experimentar e ver como a relação vai ou não engrenando. “Porém, se chegar à conclusão que quer ficar solteira é importante entender que trata-se de uma opção que deve ser respeitada, independente de qual o motivo”, avisa. “É bom escolher confiar. Afinal de contas, se o outro estiver mentindo em algum momento isso virá a tona, mas será que vale a pena perder tempo e energia pensando nisso durante horas do dia?”, questiona Rosangela.
De acordo com Alexandre Bez, psicólogo especializado em relacionamentos, de São Paulo (SP), é imprescindível prestar mais atenção às ações do que às palavras na hora de confiar em alguém. E, ainda, não comparar a relação atual com as anteriores em busca de pistas sobre o que pode ou não acontecer. “O padrão pode ser quebrado a partir do momento em que não houver associações com o passado! É preciso se conscientizar de que cada relação é única.
Se duas pessoas que terminaram uma relação reatarem após um intervalo longo, não serão as mesmas de antes”, comenta Alexandre, que destaca: “É possível, também, que inconscientemente a mulher sabote os namoros porque não quer perder a liberdade de solteira”, explica.

Se houver essa conclusão, não há problema algum: melhor encarar a verdade e admitir e assumir o que a faz feliz de verdade. É comum que a “lista infinita de namoros que não dão certo” seja, no fim das contas, uma maneira de dar a impressão de que se relaciona e se importa em arrumar alguém. Embora o status de compromisso das mulheres ainda, infelizmente, seja alvo de uma certa pressão social, nada melhor do que ligar o dane-se e ser feliz à sua maneira, certo?

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